Maio Laranja
TextosCaros leitores, nesse texto vocês irão mergulhar em uma história verdadeira, que uma moça me contou enquanto caminhávamos juntas - não contarei o seu nome para preservar sua imagem. -
Aproveitarei a campanha do maio laranja para expor a realidade de diversas crianças do Brasil.
Caminhamos para o ano 2000 onde existia uma doce menina de 3 anos, cujo nome é Primeira (nome fictício). Ela era inteligente e como qualquer criança, por inocência, não via maldade nas pessoas. Tudo começou quando seu cunhado se mudou para sua casa, sendo os seus primeiros momentos de confusão nos banhos que ela recebia (dele). Quando estava com 8 anos, gostava de passar o tempo jogando no computador. Um dia o abusador iria tomar conta dela para sua mãe, ficando a sós na casa. Ela estava de frente com o computador quando sente o pênis do seu cunhado ao seu lado, a mão dele toca o ombro dela, e - sem reação com o coração disparado - ela não se move e não ousa olhar para lado.
(O que passa na cabeça de uma criança com 8 anos, quando algo desse gênero acontece? Posso afirmar que naquele momento ela não se sentiu protegida: os piores demônios a cercavam!)
Que bom seria se os abusos parecem por aí, ou se ela conseguisse ao menos contar para alguém, mas as imagens dolorosas continuavam a aparecer diante de seus olhos e, com 9 anos de idade, houve a primeira penetração!
(História difícil de se contar não mesmo? Caro leitor, acredite: as coisas não vão melhorar! Nesse momento acredito que essa criança de apenas 9 anos deve ter sentido muita dor. Ela foi mais que violada: foi torturada! Ela não sabia o que fazer. Com quem poderia contar? Como seria se sua mãe soubesse de algo como isso?)
“Talvez eu deva contar para o meu pai”, pensava a garota aterrorizada, quando em uma noite ele decidiu abusar da própria filha agora com 10 anos. Ela não entendia o porque isso estava acontecendo, imaginava que talvez era para isso que ela serviria.
A Primeira passou por momentos ainda mais difíceis. As coisas se tornaram a cada dia mais frequentes com o cunhado abusador: a cada 15 dias, 10 dias, toda a semana, todos os dias. Ela conhecia quase todos os motéis de Curitiba e, com apenas 15 anos, os visitava com o uniforme da escola. Onde estava a fiscalização? Bom, pelo visto não existia (existe).
A garota também pensou em contar para sua mãe, mas ouviu a sua irmã dizendo que o pai dela havia tentado machucá-la e a mãe não fez nada a respeito. Logo, continuou a dar sinais de tudo o que estava acontecendo, reclamando de dores constantes, mas era como se os olhos dos familiares não quisessem enxergar!
O estuprador passava muitos momentos com ela: encontrava-a antes da escola, todos os dias, havia um controle físico e mental extremamente intenso, colocando-a sobre uma enorme pressão emocional. Ela sempre dizia que não queria mais ter relações sexuais com ele, mas nunca fizeram efeito as palavras de uma desprotegida criança, pré-adolescente, adolescente.
Em uma conversa, o abusador disse que depositava, todo mês, um dinheiro para o pai de Primeira. Neste momento, essa garota - que, sinceramente, não sei como ainda não havia tirado sua própria vida mediante tamanho sofrimento - soube que era vendida pelo próprio pai, sem ao menos consentir com a situação.
O tempo passou e com ele chegaram os seus 16 anos. Não dava mais para viver com aquela situação! O que fazer agora? De uma forma inesperada, ela foi visitar uma igreja que estava dando uma palestra sobre abuso sexual. Naquele momento pediu ajuda para aquele Deus, sobre o qual ouvia tanto falar. As coisas não seriam fáceis, mas mesmo se ela perdesse tudo, ainda teria sua fé!
Foi quando Primeira decidiu contar a sua situação para uma professora que tudo explodiu. Elas processaram o seu cunhado, mas a sentença demorou 7 anos para sair, Já com os seus pais a garota precisou sair de casa e foi acolhida por sua professora.
O Abusador fugiu: a sentença de 35 anos demorou muito tempo para sair. Atualmente ele se encontra foragido, mas será que ainda o encontrarão? O seu pai faleceu e, naquele momento o relacionamento com sua mãe foi destruído.
Longe de casa, já trabalhando, ficou um tempo na casa da família que a acolhera. Todavia, as coisas lá não eram muito boas: devido à história da Primeira, a mãe da professora tinha medo do seu próprio marido ser seduzido pela jovem.
(Dá para acreditar que as pessoas julgam que são as crianças que seduzem os abusadores?)
Logo Primeira precisou sair da casa onde morava e, sem rumo, chorava na rua e, perguntava para sua única fonte de esperança “Deus, para onde irei?”. Primeira tinha certeza de uma coisa: apesar de toda tragédia de sua vida, sabia que havia um Deus soberano que poderia restituir todas as coisas; e assim Ele fez. Ela encontrou um lar, e nesse local, com muitas outras moças, iniciou o seu processo de cura. Através de um relacionamento com Jesus, ela foi sendo restaurada.
(Leitor, não consigo de fato entender como essa mulher passou por tudo isso. A riqueza de detalhes deste texto é tão mínima que talvez não transmita sua gravidade. Com essa moça eu entendi verdadeiramente a ter fé. Meus olhos se enchiam de lágrimas ao som desta história, não conseguia ao menos encará-la. A força que a Primeira teve não se iguala a nada que eu já tinha visto, e poder vê-la amando e cuidando de pessoas faz meu coração transbordar de fé e buscar quem é esse Deus, que fez essa criança, hoje adulta, transformar toda a sua dor e sofrimento em poder curativo para outras vidas!)